Saúde e bem-estar

O JOGO DA FAMA

Por Osho

imagemToda a estrutura da nossa vida é tal que somos ensinados que, a menos que haja reconhecimento, não somos ninguém, somos inúteis. O trabalho não é importante, mas o reconhecimento é - isso é uma inversão de valores. O trabalho deve ser importante, um prazer em si. Você deveria trabalhar não para ser reconhecido, mas porque gosta de ser criativo, porque gosta do trablaho.
Essa é a forma pela qual deveríamos ver as coisas - se você ama o trabalho, você trabalha, e não pede reconhecimento por isso. Sua realização deveria ser o próprio trabalho. E, se todos aprenderem a singela arte de amar o trabalho, independentemente do que ele seja, de ter prazer em realizá-lo sem esperar reconhecimento, nós teremos um mundo melhor e mais feliz .Tal como é, o mundo o tem mantido preso na armadilha de um padrão infeliz. Aquilo que você faz é bom não porque você gosta do que faz, porque você faz perfeitamente, mas porque o mundo reconhece seu trabalho, e o reocmpensa, lhe dá medalhas de ouro. Prêmios Nobel. Todo o valor intrínseco da criatividade foi aniquilado e o de milhões de pessoas foi destruído - pois não se pode dar Premios Nobel a milhões de pessoas. Mas cria-se o desejo de reconhecimento em todos, de modo que ninguém possa trabalhar em paz, em silêncio, tendo prazer naquilo que se faz. Contudo, o valor da vida está nas pequenas coisas. Para essas coisas, não há recompesna, nenhum título concedido por governos, nenhum diploma conferido por universidades.
Um dos grandes poetas deste século, Rabindranath Tagore, viveu em Bengala, Índia. Ele havia publicado seus poemas seus romances, em bengali - mas não obteve nehum reconhecimento. Algum tempo depois, ele traduziu um pequeno livro, Gitanjali, "Oferendas de Cânticos", para o inglês. Ele estava consciente de que o original tinha uma beleza que a tradução não tinha nem podia ter - porque esses dois idiomas, o bengali e o inglês, têm estruturas diferentes, diferentes formas de expressão. O bengali é muito suave. Mesmo quando você briga ou discute, tem-se impressão de que você está envolvido numa conversa agradável. É muito musical, cada uma de suas palavras é musical. Essa qualidade não existe no inglês nem pode ser transmitida a ele; o inglês tem características diferentes. Mas ele conseguiu traduzi-lo, e a tradução - pobre se comparada com o original - recebeu um Prêmio Nobel. Então, de repente, toda a Índia tomou conhecimento disso... O livro estivera à venda em bengali e em outros dialetos hindus durante anos, mas ninguém havia tomado conhecimento dele.
Todas as universidades quiseram dar-lhe o título de doutor hohoris causa. A Universidade de Calcutá, da mesma cidade em que morou, foi a primeira, obviamente, a oferecer-lhe um título honorífico. Ele recusou. E disse: - Vocês não estão dando-me um diploma; vocês não estão reconhecendo o meu trabalho; vocês estão prestigiando o Prêmio Nobel - pois o livro tem estado aqui de uma forma muito mais bela, e ninguém se deu ao trabalho nem mesmo de escrever um artigo de crítica sobre ele. - Ele se recusou a aceitar todos os títulos honoríficos. E disse ainda: - Isso é insulto para mim.
Jean-Paul Sartre, um dos grandes romancistas e homem de grande penetração no âmbito da psicologia humana, recusou o Prêmio Nobel. Ele disse: "Recebi prêmios suficientes enquanto fazia o meu trabalho. Um Prêmio Nobel não pode acrescentar nada a isso - ao contrário, isso me deprime. É bom para amadores que estão em busca de reconhecimento; sou bastante maduro e tenho me divertido muito. Amo tudo o que tenho feito; isso é a minha recompensa. E não quero nenhum outro prêmio, pois nada pode ser melhor que isso que tenho recebido." Ele estava certo. Mas, no mundo, as perssoas certas são muito poucas, e o mundo está cheio de pessoas equivocadas vivendo presas em armadilhas.
Por que você deveria preocupar-se com reconhecimento? Preocupar-se com reconhecimento tem sentido somente se você não gosta do seu trabalho; nesse caso, ele tem sentido, pois parece compensar algo. Você detesta seu trabalho, não gosta mesmo dele, mas você o está fazendo porque haverá reconhecimento, você será admirado, aceito. Em vez de pensar em reconhecimento, reconsidere o tipo de trabalho que você faz. Você gosta dele? Então, esse é o objetivo. Se você não gosta dele, troque-o por outro!
Os pais, os professores estão sempre enfatinzando que você precisa obter reconhecimento, aceitação. Isso é uma estratégia muito astuciosa para manter as pessoas sob controle.
Aprenda uma coisa fundamental: faça aquilo que você gosta de fazer, adora fazer. E nunca busque reconhecimento; isso é mendigar. Por que a pessoa deveria buscar reconhecimento? Por que alguém deveria desejar ser aceita? Olhe bem para dentro de si mesmo. Talvez você não goste do que faz; talvez esteja receoso de estar no caminho errado. Talvez, por isso, procurar obter aceitação o ajude a sentir que está certo. É possível que você ache que o reconhecimento o fará sentir que está buscando o objetivo correto.
O problema é com seus próprios sentimentos íntimos; ele não tem nada a ver com o mundo exterior. E por que depender dos outros? Todas aquelas coisas dependem dos outros - e você mesmo está tornando-se dependente. Não aceitarei nenhum Prêmio Nobel. Toda crítica que tenho recebido de todas as nações do mundo, de todas as religiões é mais valiosa para mim! Aceitar o Prêmio Nobel significa que estou tornando-me dependente - não terei orgulho de mim mesmo, mas do Prêmio Nobel. Contudo, neste exato momento só posso sentir orgulho de mim mesmo; não há nada de que eu possa orgulhar-me.
Neste último caso, sim, você se torna uma pessoa. E ser uma pessoa que vive em total liberdade, que caminha com os próprios pés, que bebe das próprias fontes, é o que a torna realmentefirme, segura. Isso é o começo de seu florescimento máximo como criador.
Aqueles a que se Têm como figuras reconhecidas, renomadas, são pessoas atulhadas de lixo e nada mais. Mas o lixo que as enche é aquele com o qual a sociedade quer que elas fiquem cheias - e a sociedade as recompensa dando-lhes prêmios.
Qualquer pessoa que tenha a mínima consciência da sua individualidade vive movida pelo seu próprio amor, seu próprio trabalho, sem se importar infimamente com o que os outros pensam dele. Quanto mais valioso o seu trabalho é, menora chance de você obter respeito por ele. E quando seu trabalho é o de um gênio, você não obtém nenhum respeito durante a vida. Você é condenado enquanto ela dura... depois, passados dois ou três séculos, fazem estátuas de sua pessoa, seus livros são respeitados - pois são necessários dois ou três séculos para que a humanidade entenda a grandiosidade do gênio. É grande o abismo entre ele e a capacidade de entendimento dela.
Para ser respeitado pelos idiotas, você tem que se comportar à maneira deles, de acordo com as expectativas deles. Para ser respeitado por esta humanidade doentia, você tem que ser mais doentio do que ela. Assim, ela o respeitará. Mas o que você ganhará com isso? Você perderá sua alma e não ganhará nada.

 


 

Osho é um dos mestrees espirituais mais conhecidos e provocativos do século XX. Desde os anos 70, ele chamou a atenção dos jovens ocidentais que se interessavam por meditação e técnicas de transformacão pessoal. Mais de duas décadas depois de sua morte, em 1990, seus ensinamentos continuam se difundindo pelo mundo, influenciando buscadores de todas as idades e países.