Artigos sobre Mandalas

» A técnica do mandala/Parte 1

imagem A técnica do mandala na terapia transpessoal.
Mandala é uma figura geometricamente complexa, composta de um entrelaçamento harmônico de formas quadradas e circulares policromadas, mais ou menos simétricas e coligadas a um núcleo central.
Trata-se de uma antiqüíssima representação simbólica, cujas origens remontam talvez ao primeiro budismo resvalado do Kashmir ou, definitivamente, às tradições espirituais e soteriológicas ainda mais remotas e pré-védicas.
O estudo e interpretação do Mandala pedem um conhecimento aprofundado de seu simbolismo e da relativa liturgia, cujas raízes perdem-se na trama secreta das primordiais experiências filosófico-religiosas da gnose indo-tibetana, budista e hindu. Todavia, no fim da presente contribuição, vamos nos deter apenas em algumas premissas introdutórias essenciais, para demonstrar como a finalidade terapêutica destes antiqüíssimos psicocosmogramas representa, para a psicologia transpessoal, uma das vias mais eficazes de desenvolvimento da consciência. De resto o interesse já demonstrado pelo Mandala por Jung, Assagioli e outros psicólogos humanistas, enquanto por um lado, atesta a efetiva validade de um símbolo antigo, de cujo precioso ensinamento somos apenas alertados, por outro confirma decididamente, através da nossa experiência terapêutica, que os tempos talvez já estejam maduros para um novo encontro que saiba trazer a unificação de todas as funções da pessoa humana. Define este encontro terapêutico como a técnica do Mandala, enquanto síntese dinâmica de uma existência e processo harmonioso de crescimento das três funções fundamentais da personalidade: mental, emocional e transpessoal. Também devo confessar que não posso ter alguma simpatia por qualquer técnica como tal, por causa da identificação freqüentemente excessiva do trabalho terapêutico com procedimento que não se prestam a nenhuma forma redutiva e esquemática. Portanto, entendo usar, neste enfoque, o termo “técnica’ somente na acepção mais ampla da “ampliação prática’ de certos princípios metodológicos para a compreensão da pessoa humana, no intento de promover segundo a abordagem humanística – uma crescente harmonização de todos os níveis constitutivos. Este intento corresponde, em efeito, ao mesmo percurso ou “viagem iniciática’ que o adepto deve enfrentar através de várias etapas da construção do Mandala e da contemplação – transformação que aquela “senda” almeja realizar.
De um ponto de vista rigorosamente filosófico, O Mandala, é uma representação iniciática das potencias psíquicas que agem no macroscosmo e no microcosmo; a sua contemplação provoca no adepto uma intensa transformação espiritual, que exige um rigoroso ritual e uma liturgis preparatória. O seu complexo simbolismo nasce da profunda experiência metafísica e filosófica do mahayana, ao qual convergem procedimentos de realização coligados a práticas psicológicas e terapêuticas. Portanto, podemos afirmar que o Mandala é simultaneamente uma forma eficaz de “interiorização gradual” e de “harmonização” das estruturas conscientes e inconscientes, favorecendo – através da visualização espontânea e em forma de desenho e cores – o aflorar de vivências profundas, cuja elaboração pode permitir uma mais ampla sabedoria da própria vivência individual. Como já observava Jung (5), a iniciação ao Mandala representa uma experiência psicológica fundamental, difundida não somente no oriente, mas também no ocidente: pensemos no simbolismo do círculo protegido das antigas catedrais, ou nas representações sacras dos quatro Evangelistas; no símbolo da flor, da cruz e da roda, com evidente recorrência ao número quatro (que lembra a tetraktys pitagórica, o número místico fundamental); ou finalmente às visões dos místicos ou a certas mensagens oníricas.
Jung publicou numerosos desenhos realizados por seus pacientes, cuja estrutura geométrica é simétrica evocam também a linguagem harmoniosa da cor, usada na técnica dos Mandalas orientais. O estudo a alquimia ocidental e oriental, conjuntamente à sua amizade pessoal com o grande sinólogo Richard Wilhelm, entreabriram-lhe os horizontes infinitos do I Ching, o livro das Mutações, o antiqüíssimo oráculo do saber, baseado na lei da harmonia dos contrários (6). Estas pesquisas permitiram-lhe afirmar: “A união dos opostos, em um nível mais alto da consciência... não é um fenômeno racional e muito menos um ato de vontade, mas é um processo de desenvolvimento psíquico que se exprime em símbolos” Tal observação constitui, no nosso entender, um postulado da moderna psicologia transpessoal, cuja meta não se exaure (como na psicanálise) em um trabalho conduzido sobre as pulsões biológicas e sobre as defesas elaboradas pelo paciente, as quais impediriam um pleno desenvolvimento do eu, desde as “hipotecas” conflitais da vida infantil. O verdadeiro fim da terapia humanística é, ao contrário, aquele de enfrentar a dor e o conflito, iniciando um processo gradual de conhecimento e crescimento, até integrar toda a personalidade aos seus diversos níveis. Agora, neste processo, presume-se que o paciente já esteja consciente da sua autoprojeção, em direção a um desenvolvimento da vida, permitindo-lhe desidentificar-se daquelas limitações e hábitos que representam justamente as fontes secretas de sofrimento e desarmonia. Neste sentido, o uso intensivo de técnicas de visualização de formas cromáticas e a projeção guiada de símbolos, como a própria meditação, foram reveladas por muitos psicólogos humanísticos como: Silberer, Frank e Taczek. Particularmente, Assagioli sugeriu a meditação sobre o desabrochar da rosa, como símbolo natural da abertura da vida que se desenvolve a partir de um centro de energia. Este exercício é bastante próximo da meditação do Mandala que pode ser todavia utilizado, em nosso entender, também por métodos e intentos diversos, como: desenhando-a, construindo-a ou desenvolvendo-a terapeuticamente para procurar a solução de um problema pessoal.(Técnica do Mandala - parte 2)

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